terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dia Nublado


Toda tarde nublada é como um dia especial
Por que se desesperas por não poder ver os raios de sol?
Se todo dia nublado é uma lembrança emocional

Se todas as tardes em que as nuvens tapam o céu
E todas as noites em que as estrelas tapam a imensidão
Não serão capazes de lhe tirar o por-do-sol!

Não penses que te digo isso de gratidão
Nem cogites pensar naquela desculpa amaldiçoada
Porque, no fundo, você sabe que o nublado do teu céu
Nada a ver tem com as luzes negras do teu coração.

Agora vá embora... E leve todas essas trevas
Vá sem pensar... Muito menos pense em voltar
Porque o especial, de um dia nublado,
Está, justamente, em não ter os olhos ofuscados...

Pela beleza má, do teu raio de sol.



Suicídio


Nesta noite afagar-te-ei os cabelos.
Deitar-me-ei sobre a ferida aberta
afim de esmagá-la impiedosamente.
Contar-te-ei o que fizeste
com o intuito de difamar teu nome em vão
Buscar-te-ei, oh sol,
Queimando-te feito como carvão

Nesta noite ser-te-ei cruel
vendendo minha alma por trocados,
atirando-te as moedas na face.

Começarei despindo-me do pudor
até que despir-me-ei de minha própria pele.

E que morra em carne e osso.

Matando-me mais rápido
ao matar-te lentamente,
e silêncio.

Nesta noite roubar-te-ei a vida
ao roubar-me, a minha.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A diferença entre Fé e Amor.


Por mais que ainda insistamos em tentar verbalizar aquilo que não pode ser dito, não acho que isso seja de todo o mal, desde que observemos com certo cuidado. Não é com muita dificuldade que depois de algumas perguntas vejamos nascerem outras delas ainda mais interessantes, bem como o Sol o faz depois de uma noite escura de inverno. Todos sabemos que Aquilo que não pode ser dito é horroroso e belo ao mesmo tempo. O que poucos sabem é que aquilo que não precisa ser escondido não é mais pobre que o outro.

Dissera Maria Rita certa vez “Se perguntar o que é o amor pra mim, não sei responder e não sei explicar. Só sei que o amor nasceu dentro de mim, me fez renascer, me fez despertar.” E assim, não acho que seja muito diferente do que ela disse. Acho que amar é doar-se, é completar-se sendo um só antes de qualquer coisa, mas estar disposto a trocar um olhar, um suspiro, um pedaço de carne.

Não acho que sentir Amor seja diferente de fazer amor. Busca-se e empreende-se algo, depois que gradualmente atingimos o que queríamos, rejubilamo-nos de prazer. Vem o descanso e depois de algum Tempo a experiência, e não muito raro que descobrimos, depois da Morte, algo que passou despercebido frente aos nossos olhos em Vida. Com o Amor, o homem descobre aquilo que ele renegou, e conhece-se a Si mesmo conforme pediu Sócrates alguma vez. Amando, ele dá em sacrifício, com um sorriso no rosto, o que tem de mais valioso – e que em outros tempos não faria sem lágrimas nos olhos.

Como se não bastasse, o homem que ama ainda sofre com o ser amado, entristece-se da mesma forma e desconhece o que é a indiferença. Aquele que ama jamais mente. Mesmo que em silêncio e com os olhos fechados, não sabe proferir algo além da verdade – e o mais interessante disso, é que não precisa de um livro sagrado para comprovar qualquer coisa. Com o Amor protegendo-o com Suas asas, ele descobre que é dono do mundo ao mesmo tempo em que entende que é um grão de areia numa praia deserta.

O homem que ama não é diferente do homem que ora. Bendito é aquele que comunga com os outros homens e mulheres, e da mesma forma aquele mesmo que apaixonou-se, um dia, pelos deuses.


Imagem: Detalhe de Vênus, Cupido e o Tempo (Angelo Bronzino, 1540-45).

Por Odir Fontoura