quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Luz que Queima Nos Eleva ao Absurdo

 
Ele caminhou ao contrário das pernas
E assistiu morrer o sentimento ruim
E gritou tão alto que nenhum ouvido o escutaria.
Fez o silêncio da palavra ensurdecer a rua de pedras brancas
E viveu aquilo que ninguém nunca o havia negado
E saltou tão alto que as formigas olhariam suas patas para vê-lo voar.
Desprendeu-se da matéria morta que sufocava o espírito
E mergulhou em desertos tão imensos quanto grãos de soja
E praguejou amores impossíveis contra muros de seda.

Vivo como uma rocha milenar...
...Assistiu a história ser feita antes de rolar sobre o mundo.
Singelo como um olhar...
...Observou o horizonte dissipar-se sobre a palma da mão direita.

Era livre para não ter medo do que não existe
E assim o faria enquanto fosse possível!


 

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre Rótulos e Classificações


Como sempre digo, o pós-modernismo se serve disso.

De caos.

Acredito, cada vez mais, que a sua passagem entre nós será rápida, se comparado com outros momentos da humanidade. É preciso o caos para que possamos repensar a ordem das coisas. É como um guarda roupa que estava arrumado com as camisas separadas por cores. Conforme o uso, as cores foram misturando-se ao retornarem da  lavanderia. Chega então um dia em que abrimos o guarda roupa e não sabemos mais que coisas de real valor e úteis temos guardadas, nem como as temos. É preciso tirar tudo lá de dentro, jogar para fora e reorganizar conforme nossa experiência do que funciona e do que não funciona na especialidade de se organizar e guardar roupas. Talvez o resultado sejam camisas separadas não mais por cores mas por mangas curtas e mangas longas. Ainda assim, pode ser que futuramente percebamos que o novo sistema não funcione tão bem o quando se esperava e voltemos a nos perder no caos.

O importante, em tudo isso, não é sabermos organizar, como vamos organizar ou quantas vezes teremos que organizar as coisas e nossas vidas, mas acharmos a forma mais adequada de convivermos e utilizarmos essas camisas. Isso sim, é extremamente pessoal e o direito de o ser vai até o limite em que invade os direitos de outrem. Isso sim refletirá no nosso bem estar, na nossa produtividade e no nosso amadurecimento.

Somos meros fragmentos de uma gigantesca cadeia de conhecimento. Não tenhamos a pretensão de sermos mais do que isso, pois não somos e nem seremos. Independente de sistemas, pensamentos ou rótulos que somos portadores e propagadores, tenhamos em mente que somos reflexo de nossos pensamentos e não eles de nós.

É e será merecido a cada cabeça o chapéu que a esta servir.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dia Nublado


Toda tarde nublada é como um dia especial
Por que se desesperas por não poder ver os raios de sol?
Se todo dia nublado é uma lembrança emocional

Se todas as tardes em que as nuvens tapam o céu
E todas as noites em que as estrelas tapam a imensidão
Não serão capazes de lhe tirar o por-do-sol!

Não penses que te digo isso de gratidão
Nem cogites pensar naquela desculpa amaldiçoada
Porque, no fundo, você sabe que o nublado do teu céu
Nada a ver tem com as luzes negras do teu coração.

Agora vá embora... E leve todas essas trevas
Vá sem pensar... Muito menos pense em voltar
Porque o especial, de um dia nublado,
Está, justamente, em não ter os olhos ofuscados...

Pela beleza má, do teu raio de sol.



Suicídio


Nesta noite afagar-te-ei os cabelos.
Deitar-me-ei sobre a ferida aberta
afim de esmagá-la impiedosamente.
Contar-te-ei o que fizeste
com o intuito de difamar teu nome em vão
Buscar-te-ei, oh sol,
Queimando-te feito como carvão

Nesta noite ser-te-ei cruel
vendendo minha alma por trocados,
atirando-te as moedas na face.

Começarei despindo-me do pudor
até que despir-me-ei de minha própria pele.

E que morra em carne e osso.

Matando-me mais rápido
ao matar-te lentamente,
e silêncio.

Nesta noite roubar-te-ei a vida
ao roubar-me, a minha.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A diferença entre Fé e Amor.


Por mais que ainda insistamos em tentar verbalizar aquilo que não pode ser dito, não acho que isso seja de todo o mal, desde que observemos com certo cuidado. Não é com muita dificuldade que depois de algumas perguntas vejamos nascerem outras delas ainda mais interessantes, bem como o Sol o faz depois de uma noite escura de inverno. Todos sabemos que Aquilo que não pode ser dito é horroroso e belo ao mesmo tempo. O que poucos sabem é que aquilo que não precisa ser escondido não é mais pobre que o outro.

Dissera Maria Rita certa vez “Se perguntar o que é o amor pra mim, não sei responder e não sei explicar. Só sei que o amor nasceu dentro de mim, me fez renascer, me fez despertar.” E assim, não acho que seja muito diferente do que ela disse. Acho que amar é doar-se, é completar-se sendo um só antes de qualquer coisa, mas estar disposto a trocar um olhar, um suspiro, um pedaço de carne.

Não acho que sentir Amor seja diferente de fazer amor. Busca-se e empreende-se algo, depois que gradualmente atingimos o que queríamos, rejubilamo-nos de prazer. Vem o descanso e depois de algum Tempo a experiência, e não muito raro que descobrimos, depois da Morte, algo que passou despercebido frente aos nossos olhos em Vida. Com o Amor, o homem descobre aquilo que ele renegou, e conhece-se a Si mesmo conforme pediu Sócrates alguma vez. Amando, ele dá em sacrifício, com um sorriso no rosto, o que tem de mais valioso – e que em outros tempos não faria sem lágrimas nos olhos.

Como se não bastasse, o homem que ama ainda sofre com o ser amado, entristece-se da mesma forma e desconhece o que é a indiferença. Aquele que ama jamais mente. Mesmo que em silêncio e com os olhos fechados, não sabe proferir algo além da verdade – e o mais interessante disso, é que não precisa de um livro sagrado para comprovar qualquer coisa. Com o Amor protegendo-o com Suas asas, ele descobre que é dono do mundo ao mesmo tempo em que entende que é um grão de areia numa praia deserta.

O homem que ama não é diferente do homem que ora. Bendito é aquele que comunga com os outros homens e mulheres, e da mesma forma aquele mesmo que apaixonou-se, um dia, pelos deuses.


Imagem: Detalhe de Vênus, Cupido e o Tempo (Angelo Bronzino, 1540-45).

Por Odir Fontoura

domingo, 23 de janeiro de 2011

Céu de Baunilha


A vontade que tenho é de amar-te ao contrário.
Beijar-te dos pés à cabeça,
Concentrar-me na boca e nos joelhos.
Olhando de costas para ensaiar
uma chegada em cada partida.

Convidar-te para um jantar onde a comida
foi substituída por carícias.
Um piquinique onde não há praça ou toalha xadrez,
Apenas olhos e luzes e silêncio.

Quero-te à minha frente, correndo.
E para não poder alcançá-la, ficarei imóvel.
Pois só um amor ao contrário é amor,
E só o contrário do amor é completo.

Na última cena nos vejo quietos,
Cansados de correr de costas um para o outro.
Deitados em um céu de baunilha,
Admirando lá em cima a verdura da grama!






sábado, 22 de janeiro de 2011

Adiós


Ojos como agujeros negros,
Cabellos como fantasmas de viento
Y cuerpo medio humano, medio tiempo.

Vino a mi vida como un regalo de los dioses,
Llenó mi alma como agua de salto,
Como libro de Pablo
O como voces de niños.

Robó de mis dias las planuras,
Hizo de mis manos aventuras
Y de mi corazón hizo un esclavo.

No sé si te bendigo o te destruyo.
Si lloro o si me pierdo en el oscuro.

Ya no sé si te quiero o si me quiero,
Pero tengo sed
Y agua no hay más en tu desierto.

Compreendes ahora cariño?
Porqué traigo en las manos tanta sangre?

No llores por favor,
No hay razón.
Es la hora de seguir la carretera
Y compreender que a su manera, cada quien mata la pasión.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um Mundo Selvagem?


Não apenas mais uma música de sentimentos amorosos ou de paixão, mas uma música de Cat Stevens (Yusuf Islam). Fala do sentimento de deixar partir, esperando o melhor para aquele que parte. Nem sempre isso é possível de se desejar à alguém que nos abandona (ou que assim pensamos ser). Poderia ser uma música de um namorado à sua namorada mas poderia ser também a música de um pai à uma filha. O mundo está aí fora, com possibilidades, dificuldades, incertezas, desafios, e muitas coisas maravilhosas para se descobrir, sendo algumas, descobriremos mais tarde, terríveis.

Algo que eu insisto sempre é que nós, vocês e eu, fazemos o mundo acontecer. Se o mundo um dia partir seu coração em dois, ou fazer com que seja difícil manter um sorriso, lembre-se que você ajudou a construir esse momento.

Se os outros preferem fazer os outros chorarem, eu, mesmo assim, continuarei a tentar fazer os outros sorrirem. Independente de quantas lágrimas derramei, ainda assim, há coisas muito mais importantes do que nossas tristezas e que precisam de nossa atenção.

Se um dia vocês tiverem que partir para algum lugar, lembrem-se da música e "Take good care". Apreciem.






















Obs.: video de 1976, música lançada em 1970.

Now that I've lost everything to you
You say you wanna start something new
And it's breakin' my heart you're leavin'
Baby, I'm greavin'

But if you wanna leave, take good care
I hope you have a lot of nice things to wear
But then a lot of nice things turn bad out there

Oh, baby, baby, it's a wild world
It's hard to get by just upon a smile
Oh, baby, baby, it's a wild world
I'll always remember you like a child, girl

You know I've seen a lot of what the world can do
And it's breaking my heart in two
Because I never wanna see you a sad girl
Don't be a bad girl

But if you wanna leave, take good care
I hope you make a lot of nice friends out there
But just remember there's a lot of bad and beware

Oh, baby, baby, it's a wild world
It's hard to get by just upon a smile
Oh, baby, baby, it's a wild world
I'll always remember you like a child, girl

Baby, I love you
But if you wanna leave, take good care
I hope you make a lot of nice friends out there
But just remember there's a lot of bad and beware

Oh, baby, baby, it's a wild world
It's hard to get by just upon a smile
Oh, baby, baby, it's a wild world
I'll always remember you like a child, girl


Uma Observação


Sabemos que há alguns milhares de anos, surgiriam pelas voltas do Mediterrâneo tribos invasoras, bélicas, patrifocais e "ativas" que hoje seriam denominadas por indo-europeus. Esses povos, dotados de um conhecimento científico e muito mais "evoluído" trouxeram consigo a domesticação de alguns animais bem como o uso da tecnologia do ferro e do bronze a posteriori. Contrastariam com as culturas até então agrárias, pacíficas e matrifocais, mas "primitivas" ou "involuídas" do Neolítico.

Hoje sabemos que nosso modelo de vida Ocidental e judaicocristão pode encontrar aí suas mais profundas raízes. A cultura da expansão, do domínio e do poder é somada a uma visão de mundo onde prevalece a guerra e a força. Já não se reverencia uma mãe que abraça seus filhos, mas o pai que os encoraja à conquista e a batalha. Assim, Deus também torna-se Pai, um Pai Guerreiro, Vitorioso e Rei que exige sempre mais e mais dos seus filhos súditos.

Milhares de anos depois do choque cultural causado por estes homens montados a cavalo que rompiam com a tranquilidade das famílias pastoras, hoje vivemos em uma sociedade autodestrutiva e com prazo de validade. A Terra em que pisamos já não é importante, por isso já conquistamos seus mais recônditos lugares usurpando suas bênçãos e beneces, com uma respectiva visão de mundo sempre linear onde a vida é entendida como uma linha infinita e sempre fértil. Aqui, a vida é bela, a morte é feia.

Em breve, chegará o tempo em que os homens olharão para trás e se darão conta do absurdo que cometeram. Paricularmente, já acho tarde para mudar o mundo. Como neopagãos, acho que, antes de mais nada, devemos procurar mudar o nosso próprio mundo, bem como a maneira de lidar com ele. Mudar o dos outros, é natural e consequente. Mas uma coisa de cada vez. E isso é só uma pequena e curta observação de que muitos dos nossos problemas (entendamos eles como fatos ou interpretações) não são de curta, mas de longuíssima-duração histórica.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

365 Dias Depois...


Hoje por algum motivo acordei irritado. Difícil de explicar, mas quando vai chegando o final de ano, aqui nesse mundinho de cultura ocidental, a gente vai fazendo um bando de reflexões sobre a nossa vida, sobre o ano, as pessoas que conhecemos, as pessoas que desapareceram. Não paramos de pensar nos grandes planos para o próximo ano e, ao mesmo tempo, vamos percebendo que lá se foram 365 dias em que não fizemos exatamente o que queríamos, ou que, por mais que tenhamos feito tudo que queríamos, ainda nos faltou algo que sequer sabemos bem o que foi.

Pois bem, acho que o que queríamos mesmo era estarmos nos sentindo completos, plenos. Falta uma parte de nós, ou muitas partes de nós. Na virada do dia 31 para o dia 1º estaremos felizes e tristes ao mesmo tempo. Felizes por sabermos que estamos tendo a oportunidade de um recomeço, e triste por sabermos que teremos que deixar muitas coisas para trás. Nos encontraremos nostálgicos pois nem todos os bons amigos e os bons parentes poderão estar próximos nesse momento. Há sim algo de muito mágico em tudo isso. Há uma energia de renovação e há também a compreensão que teremos mais uma batalha pela frente. Batalha essa que será contra nós mesmos e com o mundo lá fora. 

Seja como for essa entrada de ano, gostaria de dizer que aprendi que nem todos que estão próximos fisicamente estão tão próximos quanto os que distantes estão. Por esse motivo, dedico estas palavras especialmente aos meus amigos que pouco ou que nem chegaram a me ver, durante esses últimos 12 meses, presente em suas vidas de forma física.  Saibam que, mesmo assim, estiveram inegavelmente presentes na minha vida. Não citarei nomes, pois há aquele ditado "quem é de verdade, sabe quem é de verdade".

Espero que possamos nos ver mais e nos comunicarmos mais em 2011. Lembrem-se de pararem para refletir. É importante sabermos quem realmente carece e merece nosso precioso tempo.

Amigo não é aquele que está perto 24 horas, mas aquele que resiste ao tempo e a distância se caso for, sendo, em cada reencontro, sempre saudado com a energia e a amizade da última vez. Isso chama-se transcender ao banal, é estar em um estágio onde o perecível é inexistente e as nossas relações se concretizam eternamente no que chamamos de existência.

Um grande abraço a todos e qualquer coisa é só dar um grito. ;-)