quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

365 Dias Depois...


Hoje por algum motivo acordei irritado. Difícil de explicar, mas quando vai chegando o final de ano, aqui nesse mundinho de cultura ocidental, a gente vai fazendo um bando de reflexões sobre a nossa vida, sobre o ano, as pessoas que conhecemos, as pessoas que desapareceram. Não paramos de pensar nos grandes planos para o próximo ano e, ao mesmo tempo, vamos percebendo que lá se foram 365 dias em que não fizemos exatamente o que queríamos, ou que, por mais que tenhamos feito tudo que queríamos, ainda nos faltou algo que sequer sabemos bem o que foi.

Pois bem, acho que o que queríamos mesmo era estarmos nos sentindo completos, plenos. Falta uma parte de nós, ou muitas partes de nós. Na virada do dia 31 para o dia 1º estaremos felizes e tristes ao mesmo tempo. Felizes por sabermos que estamos tendo a oportunidade de um recomeço, e triste por sabermos que teremos que deixar muitas coisas para trás. Nos encontraremos nostálgicos pois nem todos os bons amigos e os bons parentes poderão estar próximos nesse momento. Há sim algo de muito mágico em tudo isso. Há uma energia de renovação e há também a compreensão que teremos mais uma batalha pela frente. Batalha essa que será contra nós mesmos e com o mundo lá fora. 

Seja como for essa entrada de ano, gostaria de dizer que aprendi que nem todos que estão próximos fisicamente estão tão próximos quanto os que distantes estão. Por esse motivo, dedico estas palavras especialmente aos meus amigos que pouco ou que nem chegaram a me ver, durante esses últimos 12 meses, presente em suas vidas de forma física.  Saibam que, mesmo assim, estiveram inegavelmente presentes na minha vida. Não citarei nomes, pois há aquele ditado "quem é de verdade, sabe quem é de verdade".

Espero que possamos nos ver mais e nos comunicarmos mais em 2011. Lembrem-se de pararem para refletir. É importante sabermos quem realmente carece e merece nosso precioso tempo.

Amigo não é aquele que está perto 24 horas, mas aquele que resiste ao tempo e a distância se caso for, sendo, em cada reencontro, sempre saudado com a energia e a amizade da última vez. Isso chama-se transcender ao banal, é estar em um estágio onde o perecível é inexistente e as nossas relações se concretizam eternamente no que chamamos de existência.

Um grande abraço a todos e qualquer coisa é só dar um grito. ;-)


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conselhos de Rilke - V




"Ame a sua solidão e suporte a dor que ela lhe causa com belos lamentos. Pois os que são próximos de ti estão distantes [...]. Se o próximo está longe, então o que é distante vaga entre as estrelas, na imensidão."

Rilke
Worpswede, 16 de julho de 1903
______________________________


Nem sempre aqueles que estão próximos conseguem estar realmente próximos e envolvidos com nossos anseios, nossas emoções e espírito. Li certa vez algo do gênero:

"...os caminhos bonitos quando feitos todos os dias deixam de ser tão belos. Os caminhos feios quando feitos todos os dias deixam te ter este efeito. A beleza está mesmo no caminhar..."

Talvez, os que próximos estão, estejam muito mais envolvidos com nossas matérias do que com nossas mentes. Difícil olhar para dentro de alguém quando o vê  todos os dias por fora. As pessoas se acostumam com a presença de outras pessoas mas esquecem delas como as viram pela primeira vez. Por outro lado, as pessoas que estão distantes de nós são capazes de se lembrarem de nosso espírito, ainda que para isso utilizem de suas mais sutis imaginações. Há idealização, e os sentires são mais intensos. A saudade é um fator determinante para se saber quem está realmente próximo e quem está ausente.

Devemos amar nossa solidão pois é nela que reside nosso ser. Quem não aprende a amar o próprio ser, não aprenderá a verdadeiramente amar aos próximos. A solidão não é algo ruim, pois, a pesar de sermos todos sozinhos, jamais estaremos a sós. Não será o tempo que lhe mostrará isso, mas seus olhos e sua vontade de enxergar.

Como já disse em outro momento, o tempo é uma invenção. Só existe para os que perecem aos seus pés. Assim também o é a distância. Existe apenas para aqueles que a enxergam em números.

"Se o próximo está longe, então o que é distante vaga entre as estrelas, na imensidão"

Essa, sem dúvidas, é uma frase que descreve Deus como o universo e a vida. O provável motivo de estarmos sempre mais próximos dele do que de qualquer outra coisa.

Aprender a amar a solidão é o primeiro passo para se aprender a realmente amar a comunhão e estar verdadeiramente próximo de alguém, independente da distância.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre Quedas, Humildes e Afins.


As quedas nos ensinam a sermos humildes. Humildes são aqueles que sabem que não detêm o controle de suas vidas de forma plena.

Os humildes nos ensinam que para não haverem quedas deveríamos aprender a viver em comunhão, e a palavra chave para a comunhão é o equilíbrio.

O equilíbrio nos ensina que somente o equilíbrio traz o pleno controle da própria vida e a verdadeira independência - não dos outros, mas de nossas próprias quedas.

E, por fim, independência não é o poder de se fazer tudo o que se quer, e sozinho. É o poder de se poder fazer algo sem cair, pois não há queda quando existem pessoas para nos amparar durante a caminhada.



Momentos Distantes


Tudo mudou e eu nem percebi, minha família cresceu e diminuiu ao mesmo tempo. Nasce gente todos os anos, mas nunca serão tão próximos de mim quanto os que se foram. E os que foram para sempre, ainda parecem aqui estar dentro de mim em cada pensamento, ao mesmo que tempo parecem nunca terem existido.

Há seres que parecem bons demais para um dia terem sido reais. Aqueles que se foram com as mudanças da vida, ou porque mudaram geograficamente, ou mudaram tanto que mesmo que eu queira e tente nunca mais serão aqueles que dividíamos tantas coisas.

Pode ser que fui eu quem mudei tanto que nunca mais poderei dividir nada com eles, embora divida sem querer a lembrança dos bons momentos vividos.

Tem também uns que simplesmente desaparecem, enterrados pelo desaparecimento, não sei estão vivos ou mortos e nem sei se por acaso ainda lembram de mim. Os anos passam tão rapidamente e a gente pensa que sabe para onde vai, na verdade é que nem se sabe se vai, quando vemos já não tem volta.

As pessoas mudam, mudam as coisas, as coisas mudam a vida, que passa e nos deixa passado. Pareço mergulhada numa realidade que tanto desejei, tanto procurei, por qual tanto lutei que nem percebo se sou exatamente como imaginava que seria quando tivesse isto tudo não me lembro como me imaginava. Só sei que nesta realidade as coisas não são tão claras como penso que esperava, mas não imaginava que tantas pessoas ficariam pelo caminho espalhadas como coisas.

E de repente não sei se tudo mudou e eu mudei junto, ou se fui eu quem mudei as coisas. Não tem muita explicação essa vida mesmo, sabemos que não vale a pena a angustia, mas vivemos angustiados.

Só sei que procuro em mim um pouco de antes, e antes procurava em mim essa que sou agora. Me descobri míope, mas só acreditei no diagnóstico quando coloquei os óculos e vi que as coisas não estavam assim tão distantes.

Acho que sempre fui míope, não dos olhos, da vida! Nunca enxerguei muito o distante, sempre achei que viver hoje e a prioridade maior. Viver com paixão ou com dor, mas acima de tudo, em tudo colocar amor.

O fato é que assim como não se pode prever o amanhã também não sabemos se estamos dando prioridade ao que é correto. E as vezes parece tudo embaralhado, embaçado e sem cor, e não adianta colocar os óculos, tem coisa não fica nítida assim tão fácil.

E existem distancias que só aumentam, não aquelas que os aviões nos trazem em poucas horas. Existem lugares que nunca poderemos voltar, e pessoas que nunca poderão nos alcançar.

Ainda tem momentos e pessoas que são vivas apenas em meus pensamentos, assim como eu deixei pedaços despregar de mim enquanto vivi, e vivo a repetir os mesmos passos, pois assim que é viver e assim me refaço.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Para Quando Caem as Cortinas



Sempre que mentires, rogo-te que vista o veneno
com seda nobre e ouro vivo,

Que me olhes com doçura enquanto
seguras o punhal em tuas costas

E que de mel embeba tuas palavras de despedida.

Faça-me morrer com arte e pela arte,
Por que já pouco importa se de luxo é teu teatro,
Ou que teu ouro e tua seda se revelem cópias ordinárias
da beleza de outrora.


Desejo apenas que me faças crer!

E por fim, em paz,
Entre aplausos inflamados, desvanecer.



Conselhos de Rilke - IV



"Não investigue agora as respotas que não lhe podem ser dadas, porquê não poderia vivê-las. [...] Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas."

Rilke
Worpswede, 16 de julho de 1903
______________________________


Essa frase remete um pouco ao conselho anterior. O de saber esperar pelo amadurecimento de uma idéia, algo ou alguém. Entretanto, acho que meu comentário não irá mais longe do que um breve desabafo. Quando pensamos que estamos vendo o caminho, percebemos que ainda não vimos nada de diferente de outrora. Trata-se de ti (eu e vocês), cada um, sentados sobre o mesmo cordão da mesma calçada de uma rua qualquer que como qualquer outra leva a qualquer lugar.

Essa frase não me caberia menos perfeitamente que uma luva. É como diz o ditado popular, "Se tu tens um problema e o mesmo tem solução, não se preocupe pois há uma solução. Agora, se tu tens um problema com a solução, preocupe-se menos ainda pois há solução". E é assim, amigos. "Se correr, o bicho pega. Se ficar o bicho come."

Este blog já me salvou muitas vezes e continua a me salvar sempre que preciso. Independente de quem o leia ou o visite. Aqui encontro em momentos de reflexão meus demônios, virtudes, dúvidas e soluções.

Quem sabe um dia eu ganhe alta!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Comunhão


Queria andar pelas ruas de lugar algum
Vivendo sonhos dos quais já não lembro nenhum.
Talvez subir em uma montanha bem alta,
Até que da realidade já não sinta falta.

“Confias em mim, como confio em ti?”
“Da mesma forma em que te amei outrora, e um verdadeiro amor conheci.”

Eram as palavras dos amantes que eu não mais sentia.
Por isso que, triste, já não subo as ruas, nem percorro as montanhas, como outrora fazia.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Conselhos de Rilke - III


"'Tudo' está em deixar amadurecer e então dar à luz. Deixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si, na escuridão do indizível e do inconsciente, em um ponto inalcançável para o próprio entendimento, e esperar com profunda humildade e paciência a hora do nascimento de uma nova clareza: só isso se chama viver artisticamente, tanto na compreensão quanto na criação."
Rilke
Viareggio (Itália), 23 de abril de 1903
______________________________


Não há muito que possa ser dito ou acrescentado. Rilke escreve frases de extrema simplicidade mas de reflexões intensas. Saber quando nossa semente germinou é algo que somente nós mesmos podemos saber. Não há tempo previsto nem fórmulas para se apressar a germinação. Somos todos terras mais ou menos férteis a cada estação. Mais ou menos férteis a cada temperatura e tempo.

Pode-se plantar várias sementes, mas cada uma germinará conforme for de sua própria natureza e da natureza da terra que as abrigam. Toda criação vem através de nós, mas não necessariamente de nós. Sementes são atiradas em nossos terrenos pelas mais variadas circunstâncias. O vento, os animais, as plantas ao redor, etc.

Sua arte pode vir do pensamento de um amigo, que germina na sua cabeça e ganha vida própria, vida essa que é nutrida por nós. Sobrevive as que realmente foram corretamente alimentadas e fortificadas. As que se mantiveram longe das pragas do pessimismo e da inveja, do tempero destemperado do veneno alheio.

Devemos lembrar que o exterior poderá interferir em nossa criação, mas somente nós que poderemos permitir ou não tais interferências. No final, a decisão, por mais suscetíveis que possamos ser, está unicamente em nossas mãos.

Ode à Rilke, que compreendeu como poucos que a pressa dos de sua época, hoje já lenta aos nossos olhos, não os levaram a nenhum grande entendimento - Me pergunto o que sobrará para a nossa pressa de hoje, ainda mais apressada que a de ontem.

Se a perfeição é inatingível, ainda mais o é com a pressa. Para tudo há um tempo na natureza, de acordo com a natureza de cada semente. Por que, então, não haveria de existir um tempo para cada um de nós de acordo com a natureza de cada indivíduo? Se posso deixar algumas palavras finais as deixo assim:

Nasça, cresça, amadureça, e agradeça à vida pela sua natureza, independente de seu tamanho, de sua idade, de suas conquistas. És único e por isso inigualável. Não tens a obrigação de ser mais ou igual, nem necessitas ser menos. Celebre sua arte por aquilo que ela é, indizível, por jamais ter sido dita ou  vista antes.


Dramatizar


Pago o preço pela distração.


O encantamento oriundo do ilusório, das possibilidades existentes
pelos desejos do subconsciente.



Uma festa meus caros!
Um desfile de mentiras ou verdades inconcretas.
Como é doce sonhar.

Só não esqueçam que o doce em demasia causa diabetes.

Até onde me levarei com esta inconsistência?

Nesses momentos a loucura me parece bondosa.
Cega com a doçura, desamarga o gosto das derrotas
suprimindo as faltas de nossa alma.

A loucura chama-se arte,
a arte de mentir e fingir para si e para os outros que o que se faz
tem um significado maior do que o de nos preencher um vazio.

Arte escrita,
arte expressa em tintas multicores,
arte em atuar.

Finjo que o sou,
finges que acreditas,
fingimos por nossos próprios interesses fingindo pensar que é por um bem maior.



terça-feira, 26 de outubro de 2010

Conselhos de Rilke - II


"Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante"


Rilke
Paris, 17 de fevereiro de 1903
______________________________


Pobre daqueles que necessitam de palavras polidas para a construção de um belo poema. Constroem poemas mas não fazem poesia. Constroem poemas, mas não fazem arte. 

Respeito sinceramente os grandes poetas que inovaram na forma, no esqueleto de suas escritas. Fugiram do banal e se destacaram pela diferença, mas, honestamente, não vejo em seus poemas mais ou maior poesia do que nos poemas de uma criança. Se você se prende somente ao diferencial, na busca de construir belas escritas, deverias saber que hoje o diferente não passa do comum. Onde estarão os verdadeiros guerreiros? - Os sinceros de coração.

Tenho certeza que não era esse o caminho sonhado por grandes escritores. Eles já inovaram, destacaram e não há nada mais do que imitação de seus passos nos dias de hoje. Poemas, do tipo tradicionais, hoje em dia, são como as grifes. Enfeitam e escondem ao mesmo tempo o conteúdo.

Escrever, seja lá sobre o que for e como for, não é uma atividades exclusiva de intelectuais. É uma expressão da alma. Prefiro andar nú e descalço, mostrando a verdadeira arte. Aparentemente simples, mas de criação complexa.

Quem muito quer dar ao mundo, é porque tem uma necessidade compulsiva de receber.

Insignificante e ignorante é aquele que não vê a profundidade de uma simples palavra como o Amor. Este, sem dúvidas, está cego pela banalização do termo clichê.



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conselhos de Rilke - I


Apresentação

Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta nascido em Praga, é um dos autores de língua alemã mais conhecidos no Brasil. Particularmente não conheço tanto de Rilke quanto gostaria, mas conheço o suficiente de suas obras para dizer que tenho afinidade com seus pensamentos e admiro sua forma de escrever poemas. O que proponho fazer aqui nada mais é do que uma pequena reflexão sobre frases mais interessantes escritas por ele no livro Rilke - Cartas a um jovem poeta, publicado por Franz Kappus em 1929 - três anos após a morte de Rilke.

O livro em questão é uma compilação das dez cartas mais importantes que Rainer trocou com seu interlocutor, Franz Kappus. A partir de hoje, escreverei até o final do mês de novembro trechos dessas cartas, que servem de grande reflexão. Não poderei deixar de comentar os pensamentos de Rilke, assim como cada uma de suas palavras tão bem colocadas. Quem quiser ir a fundo, recomendo o livro que é de fácil leitura, está disponível pela L&PM Pocket e possui 91 páginas.

______________________________


"Não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica: elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de aprender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, [...] e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa"

Rilke
Paris, 17 de fevereiro de 1903

_______________________________


Sou formado em Cinema, e como toda pessoa que assim o é, imagino que não se possa ser atribuído o título de empregado ou desempregado. Há quem diga que quem trabalha no ramo, trabalha com arte, ou trabalha com entretenimento de massas. Se o cinema é ou não uma arte, acredito eu, não é o importante da questão. Talvez, o mais importante é que a arte só é verdadeiramente arte quando surge de uma necessidade de expressão sincera. Não sei se alguém que faz filmes como American Pie os faz por uma necessidade de expressão - e também não deveríamos julgar se essa necessidade é merecedora de expressão ou não. Necessidades são necessidades, conscientes ou não, e cada um tem as suas. Diretores fazem filmes. Ponto. Pessoas fazem arte. Ponto. As vezes filmes são arte, as vezes não.

Pego o exemplo do cinema porque me é o mais familiar. O que gostaria de dizer, assim como Rilke, é que a arte é subjetiva e por esse motivo, pessoal. Você pode julgar o fruto com referência no seu gosto, mas não pode condenar a árvore. A arte não tem o dever de causa alguma a não ser a de ser sincera consigo e com aquele que a criou, e sinceridade, meus amigos, é algo a se combinar. Combina com a possibilidade de compreensão que cada indivíduo possui. É como um código que só pode ser entendido por aqueles que possuem seu dicionário. A diferença da arte para os códigos, a grosso modo, é que, códigos são para serem compreendidos e a arte é um emaranhado de códigos resultantes da expressão de alguém, e, nem sempre, podem ser ou significam algo. Arte é um resultado que pode não ser admirado, mas deve ser respeitado acima de tudo. Não foi feita para se concordar ou não. Ter o direito de concordar com algo ou alguém é democracia e não tem nada a ver com críticas à arte de alguém.

Criticas são construtivas no processo evolucional da carreira ou do trabalho de uma pessoa, mas saiba que a verdadeira arte não se interessa por carreira, trabalho ou evolução. Se interessa em simplesmente ser/existir, independente do motivo que a traz à vida.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Andarilho


Na calada da noite sumi para que me vissem jamais.


Não estava frio ou quente,
estava indiferente,
como meu coração.

Não havia vento para sentir, ou grilos a guizalhar.
Havia apenas silêncio.
O mesmo que vinha de meu próprio peito.

A noite não era negra ou iluminada.
Podia-se ver metade de uma face da lua
e algumas estrelas.

Em pavor, tentava a fuga,
mas ninguém tentou impedir.

Nem os grilos, que lá estavam quietos,
ou a lua, com sua face semi encoberta.

Nem ninguém..

Nem mesmo meu coração disparou para me alertar.

Que fuga seria essa, então, afinal?

Pensava que era fuga quando partir era a proibição.
Mas a verdade era que nada me proibiria de partir.

Então entendi. Não era fuga.

Senti meu peito estalar
percebendo quão era seu peso.

Sim, eu quis voltar.

Infelizmente, quando se descobre o que é, não se pode mais.
A fuga era do que me aprisionava,

e o que me aprisionava era

a liberdade!



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cores Negras


Sinto o peito apertado. A pressão diz algo que só eu sei. Toda dor tem um sentido de ser dor. É um aviso, o alerta de que há algo que não estamos nos dando conta, ou, simplesmente fingimos não ver.

Mas como não ver? E se não ver... como não sentir?

As vezes tenho vontade de fugir para algum lugar distante - distante de todos meus desejos, amores e temores - distante de minha vida e lembranças.

Pudesse eu explodir para ser livre.

Me desintegraria, doando, assim, o melhor de mim àqueles que fazem de mim o meu melhor.

Nostalgia dói quando não se aprendeu a lidar com a saudade.

Uma lágrima enche meus olhos deixando minha visão mais turva do que poderia ser. Enquanto escrevo estas linhas, meus ouvidos acompanham True colors, e me lembro de que não é só a música - a letra ou a intérprete - mas sim, um universo de conspirações que mostra a nossa mais pura essência.

"Se o mundo o deixar louco e você não souber o que fazer, me chame, pois você sabe que eu estarei lá"

Só peço que também se lembrem, que se eu não estiver, não fora por falta de vontade de estar.

Não sei se desejo permanecer sozinho, ou estar acompanhado. Nem mesmo sei se desejo estar.

As vezes imagino todas as pessoas de minha vida, passando como um raio de eletricidade. Imagino seus sorrisos - como é bom sentir seus risos, ouvir suas vozes - Fico imaginando o que fizeram enquanto eu estava ausente. O que eu perdi?! Sinto não poder compartilhar cada instante de suas vidas, suas respirações...

Um sofrimento que me faz querer desvanecer.

Ser o tempo... o ar... a terra, e o fogo.

Ser a essência de todas as coisas. Tornar-me pleno.
Ser a poesia e não somente o poema.

"Não, vocês não podem ler minha face"

Ah Poesia!

Faz-me vivo querendo sempre morrer para viver mais.
Faz-me morto quando ainda vivo...

Vontade de jamais escrever aqui.

Cada letra, cada palavra escrita, fazem lembrar que quando escrevo sou incompleto, sozinho, e distante.

Escrita bela, que me leva a crer que poético é escrever, e a poesia é essência, é viver.

E assim, a cada minuto, tenho mais certeza que vou em direção à lugar algum. Um rato sem saída, cujo mapa possui, mas não há olhos ver.

Talvez não importa o quanto eu escreva - fugindo de meu mundo, de meu personagem vago - jamais conseguirei esvaziar aquele ar preso sufocante. Deixar de sentir o peito esmagado, a boca seca, e a garganta entalada.

Minha alma continuará a tremer, e o que quer que aconteça comigo essa noite, não se preocupem. Mato-me para renascer, e renasço todos os dias.

Amanhã volto para vocês. Para minha vida de ensaios modestos.
Amanhã volto para mais um meio sorriso. Para meu olhar de censura, minha face de desinteresse, minhas palavras comedidas.

Hoje, apenas durmo para sonhar - e como já disse antes - Sonho, para poder viver.



quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Maçã


Amaldiçoado sou ao sonhar com o cheiro da carne.

O desejo que me fascina e mata,

Fazendo reviver a lembrança



Pois é certo,



Haverá em cada hora vivida uma saudade

E em cada minuto esquecido, um vazio...



Amaldiçoado sou por ser 'vivo'

E abençoado por viver.



Que o cheiro suave persista

Até quando eu não possa mais saber



Para que assim, na luz de um tempo imprevisto,

Possamos gozar de tal fruto

E de sua fonte eterna beber.




segunda-feira, 9 de agosto de 2010

00:39


Diferente, quem sabe, daquele momento onde só se podia ver o tempo dobrado.

Meus olhos sedentos que viam os mesmos numerais, os mesmos ordinários.


Foi na busca de um mistério que encontrei minha falta de tino.


Prostituição mental é o que faço, quando me deixo levar pela repetição das horas.

E na noite, então entendi...

Não nasci para ver as mesmas coisas, nem reler mesmas histórias.

Nasci para intervir no tempo, para que este, um dia, intervenha por mim.


Que se danem as horas repetidas de minha labuta,

Que me fazem ver sempre as mesmas 14:14 horas.


Vida à meu mundo,

Que se faz acordar,

Quando vou dormir...



terça-feira, 29 de junho de 2010

Cartas a Quem Possa Interessar IV

Em que poço terá eu caído? Terá eu me desviado do caminho? Caminho traçado por jovens que nada sabiam da vida. Uma vida dita de possibilidades infinitas e grandes conquistas.

Que potes de ouros encontraremos a final?
Diga que permanecerei aqui, curioso a vislumbrar tal tesouro.

Uma vida ou duas são poucas para aprender sobre o viver e existir. E, talvez, a primeira lição seja justamente a ausência da tentativa do aprendizado.

Classificando coisas? Que coisas criaremos para a classificação?

Nesses dias em que o vizinho dorme para o trabalhar, eu, como e durmo para o sonhar. E quando meus pensamentos se desvanecem no inútil, lembro-me que não há nada mais inútil do que o rotulamento da utilidade.

Em que poços cairemos sem a reinvenção do viver?

Palpite:

Talvez, nos mesmos poços em que grandes conquistadores naufragaram seus navios. Em uma terra quadrada onde o mar acaba em abismo, o universo gira ao nosso redor; onde somos donos de algo o qual nem mesmo sabemos explicar a procedência.

E certezas? Somente duas. A ignorância vem do homem. A sabedoria, do desconhecido.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desconhecido


Já não me importa mais tanto o que virá ou berrar pelo que veio. Talvez com o tempo a gente vá se acostumando a aceitar e apreciar os desafios que a vida nos coloca à frente.

Quando se é criança se tem o sonho de que o futuro será algo distante e eterno. O local onde poderemos nos realizar como pessoas, ou, o lugar onde se terá um final limpo e feliz. A gente cresce e percebe que o futuro não está distante mais do que um dia à nossa frente. E, talvez com o tempo, conforme envelhecemos, talvez não estará a mais do que um segundo. É curto e mais prospectivamente sujo do que limpo.

Os dez anos de vida de uma criança são como a metade de todos os nossos próximos sessenta, setenta anos de vida. Tudo é infinito e de repente o finito se torna palpável às nossas mãos. Vive-se mais os dez primeiros anos de vida (e aparentemente mais longos) do que o restante de nossos dias.

Na adolescencia dos anos 2000, o estilo
glamour de "massa" e o cult de "poucos" (o glamour alternativo) foram as formas predominantes, e alternadas, de se vestir e portar - e que grandes macacos chiques nós fomos, hein? - A fama é algo do início do século XX. O luxo e o dinheiro, coisas da época em que Cristo andava com suas sandálias por aí... Agora, fama, luxo, dinheiro e pensamento politico-ecologico-socialmente correto (plus o glamour cult, é claro) são coisas a mais do que minha capacidade de compreensão pode suportar nos dias de hoje.

Tem gente querendo ser glamurosa "sem" luxo e dinheiro. Tem gente pregando a "nova forma" de ser
cool e estar nos holofotes (ainda que gritem e finjam querer ser total off). E a verdade é que chamam mais atenção rejeitando a "luz" do que a própria luz os faria "cintilar". Esses sim, brilham na escuridão.

Quanta futilidade e "arruinação".

Somos aquelas mesmas crianças que antes brincávamos, e hoje atacam por misérias espirituais. Se superar é a palavra chave, e eu me pergunto, onde foi parar nosso senso (o bom)? Os ideais?

"Queimem os bruxos que ainda acreditem nisso!". Ideologias como paz, amor e união são
so last 70ths. "Ya no hay lengua, ya que se perdió. No hay alma, porque el viento llevó".

Pobres covardes que somos!

Amantes do inútil, descrentes da própria esperança. Crianças mimadas, protegidas pelos pais recalcados que tivemos, por estes terem sido criados por nossos avós "sem-noção".

O que criaremos?

Talvez, aquilo em que, em fé, verdadeiramente acreditemos.
E em que verdadeiramente cremos, afinal?

...Talvez uma boa pergunta para uma resposta sem respostas.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cartas a Quem Possa Interessar - III


Há dias em que sinto falta do cheiro da infância,
Do calor maternal,
De puxar o bigode do avô.

Dias em que sinto falta do pão quentinho saído do forno à lenha, naquelas manhãs frias.

É a falta do gosto do Nescau.
Do quentinho do edredon, misturado a frio do inverno.
Do velho chinelo de andar pela casa.
Da paz de espírito de uma criança.

Ah! Quem dera ter oito, e um futuro brilhante pela frente.
Uma mãe e um pai, e, quem sabe, avós para sempre?!

Sinto falta mesmo é da liberdade de se poder ser somente eu e nada mais...

Do tempo de se ter tempo,
E da vida de não se sentir faltas...


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cartas a Quem Possa Interessar - II


Esses dias estava lendo no blog de um amigo um texto sobre limitações, essência e sonhos. Será que realmente possuímos limites ao nosso redor? Ou seria nós que nos limitamos ao máximo que nossos olhos podem ver sobre nós mesmos?

Não temos muito mais que vinte ou trinta anos e pensamos conhecer todas nossas capacidades, ou todos nossos limites, mas a verdade é que a cada ano, a cada dia, podemos nos surpreender com habilidades desconhecidas e formas de pensar que talvez tenhamos pensado que jamais chegaríamos a pensar.

A vida me parece um dom. O dom de aprender consigo mesmo e com todo o resto que está ao redor. O porém é que, geralmente, só se pode aprender com as ferramentas que se têm disponíveis em sua época. São raras as pessoas que têm a capacidade de inventarem novas ferramentas. Cada pintor pinta de acordo com sua mão e o pincél que tem disponível. Nem sempre é o ideal, mas tenho certeza que cabe a nós buscarmos o ideal para cada tipo de quadro que quisermos criar.

Pena as pessoas hoje somente terem o dom da destruição de ideais. Da ridicularização dos sentimentos e do culto à matéria.

Que essência e limites criamos para nosso espírito?

É mais fácil crer na matéria física que nos sonhos de um louco. É mais fácil criar quadros com a mesma técnica conhecida que inovar ao inventar uma nova forma de criar.

Nunca vimos as ondas de rádio e isso não quer dizer que não existiam antes mesmo de haver instrumentos para descobrí-las. Quantas outras coisas não vemos e ainda não achamos formas de descobrir? E que, por não vermos, não significa que não existam.

"Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original"- Albert Einstein.

- Vigie seus pensamentos e conhecerás mais de tua essência, liberte-os e conhecerás a ilimitação.



terça-feira, 1 de junho de 2010

Cartas a Quem Possa Interessar - I



E se nada pudesse ser como antes? O que seria?
Tempo? Espaço vazio?

Um passageiro à espera de um ônibus que nunca passaria?

Como retornar para o vazio do que nunca existiu?
E se voltar... Por que voltar?

E seguir por que estradas quando jamais se estivera em uma?

Andarilhos do espaço ausente.

Aquele que passou sem jamais ter passado.
Sem ter sido visto ou notado.

Mas cujos feitos comtemplamos até hoje.

Ah! Seria triste... Pela falta do inevitável.

Os desconhecidos acontecimentos da vida.

Aqueles que foram - e não foram - e ficaram para sempre sem jamais terem chegado.

Quem dera pudesse ser assim todos os dias, todas as noites.

Escolher sempre,
sempre igual.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Onírico


Talvez nem tão certo...
Ou nem tão errado...

Um destino semi afável que nos envolve,
Nos encobre, ora lama, ora flores.

Dívidas inexistentes de cabeças pequenas.
Velhos sonhos largados para trás...

Velhas crianças que brincavam de carrinhos,
Senhoras que tricotavam e embalavam-se em cadeiras de balanço.

E você se depara com a realidade de que uma vida são muitas vidas vividas.
E muitas delas duram muito pouco tempo para apenas uma.

Então se vão os avós e os amiguinhos da rua...
O cão e o gato...

E por fim se vamos nós, para que fiquem os filhos e netos de um sonho "realidade" que é mais onírico que o próprio onírico um dia conheceu.

Muitas vidas (certas e erradas), bem e mal vividas, em uma vida só. Nosso precioso tempo que com o tempo faz não valer o dinheiro que o compra.

E a ironia letal:

"Hoje, onde se vive mais, é onde morremos todos os dias"


Estrelinhas II


E como o sol, a verdade nascia e brilhava, desaparecendo com a escuridão da ignorância, da falta de conhecimento, da falta de entendimento, onde, sem enxergar, confiaríamos apenas em nós mesmos. As crianças saíam de suas casas seguras por aquela luz, e brincavam aquecidas por ela. Admiravam-na até o último momento e desviavam os olhares dela quando ela atingia seu ápice do meio-dia. Tão bela que constrangia. Tão verdadeira e forte que podia nos deixar cegos. A estrela-guia de nossas vidas, que iluminava todos os caminhos. Luz e energia.

E se alguém lhe desse as costas, veria apenas sua própria sombra. E um ser pequeno mais abaixo agradeceria pela sombra, refresco da vida, descanso da incandescente luz. A sombra que lhe permitiria enxergar mais para o além, não ferindo seus olhos, nem perturbando a visão.

E se esse ser desse as costas e essa sombra, creria que ela iria continuar dando essa sensação de bem estar, encobrindo-o.

Para agüentar a luz intensa da verdade, deve-se estar preparado para vê-la brilhar no nosso céu todos os dias.

E acreditar que pode-se viver apenas de escuridão é acreditar que não existe nada mais além que faça a sombra querida se materializar no chão.


terça-feira, 4 de maio de 2010

Fluídos de Uma Mente Inspirada



Não é para os amantes os dias sombrios,
nem as plumas da noite que o elevam,
há os dias guardados de solidão e amor
que se reserva debaixo da cama onde é
sempre dia, onde há campos floridos debaixo
do vestido daquelas que o entram.

Não há sossego para os que tentam
entender seus corações de assombro e
rebeldia, onde seu mundo de sedução
os mantém preso entre sorrisos, dinheiro
e luxúria, pronunciando a mentira
dos lábios beijados na sua própria boca.

A sua única verdade vivida, é a mentirosa
que possui sua mente, seus dias ocos pelas ruas
ouvindo seu silêncio, tentando esquecer o passado
os fantasmas do coração, os sentimentos que assombram
seus dias pairando folhas onde rabisco lágrima,
sorrisos, abraços deixados para trás, enfeito letras
mudando a paisagem de um papel que é oco, vazio
e assombrosamente branco de tanta verdade, porém
fantasioso, nela faço o meu mundo.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Sobre Quedas...


Cairemos muitas vezes.
E eu sei. Sim! Doerá.

E que nos estedam muitas mãos.
E tornaremos a levantar.

E um dia: que aprendamos a fazê-lo,
Para que possamos nós mesmos levantar.

E por Deus: que voltemos a cair
Para a cada queda levantar,
Obtendo o ganho da experiência
E nossa arrogância afastar.

Até que um dia, enfim:

Que caiamos de vez.
Ou caiamos jamais.


Por: Robson Rogers

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dimensões do Tempo


A compreensão que falta busquem no hoje e não no amanhã...

...Porque o hoje é nossa única certeza.

Único caminho a se seguir.

E enquanto fantasmas tentam lhes assombrar, lembrem-os a que vieram...

...Lembrem-os do amor que tiveram, que tem e que sempre terão.

Esqueçam-se das noites de impiedade, que já os torturam a razão.

O que conhecemos por vida é apenas um resquício de tempo no universo.

Um universo infinito de palavras, pessoas, vivências, amores... temores.

Cheio de Vidas.

Fragmentos de existências escondidas.

No hoje que lhes parece brando, e adoça...

...Ou no amanhã, que cobra, conjunto ao passado que tortura.

E, acreditem, tratam-se apenas de alucinações.

Pois só se conhece o presente, escuta-se sobre um passado, e jamais se vê o futuro além da nossa própria imaginação.


...Somos somente nós.
A música que escutamos.
Uma vida que vivemos.

O lugar em que se está...

E nossas imaginações...

...vislumbrando algo que encontra-se em uma quarta dimensão.

Pois no fundo, talvez, não se trate de buscar por compreensões...

...Mas de vivê-las.

Talvez não como uma escolha, mas como um destino natural.

Mais cedo ou mais tarde, sem que sobrevivam as excessões...

(porque essas não existem a não ser em nosso vão conhecimento).

E se nascemos para vivenciar as diferentes compreensões...

...morremos para eternizá-las.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre Velhos


O tempo destrói tudo aquilo que cria, e por isso meus irmãos na Arte bem sabem porque Saturno devorava seus filhos, até que nascesse a bendita Vênus. Mas isso seria motivo para que pudesse o ser humano viver como um eremita, sem deixar frutos ou lembranças? Simplesmente pelo fato de que essas mesmas lembranças um dia se reduzirão a pó, assim como a névoa de um incenso ao fim? É natural e evidente a necessidade do homem de deixar suas pegadas pelas estradas que caminhou. Mas o que se encontra ao fim de isso tudo, além do pó?

Ao longo dos últimos dias muito tenho pensado sobre isso. Fui recusado numa entrevista de emprego salvadora, assim como comecei a namorar, reescrever um livro inacabado e mesmo romper cordões umbilicais decisivos em diversos campos da minha vida, seja ela espiritual ou profana. E sempre que a Torre desmorona, encontramos diamantes em meio ao carvão. Assim eu pergunto novamente, o que se encontra ao fim do caminho? Um céu, um pote de ouro, as moedas douradas deitadas sobre os olhos de um morto, o frio do Hades ou um letreiro no melhor estilo de Banco Imobiliário dizendo ‘Volte e tente outra vez’?

Como qualquer homem, tenho professores e irmãos – e mesmo que os irmãos sejam mais brandos que os professores, ambos são importantes para meu aprendizado, e posteriores pegadas na estrada. Eu os amo da mesma forma que os odeio, pois me amaldiçoam da mesma forma que posso ser abençoado por eles. Um deles é o Tempo. Não sei se professor ou irmão, talvez ambos. Mas o tempo tem me mostrado muitas coisas.

Uma delas, é que tudo sempre terá mais de um nome. O que para uns é sabedoria, para outros é egoísmo; o que para uns é felicidade, para outros é martírio. Assim como uma mesma noite pode ser quente para alguns e fria para outros, mesmo que a lua seja uma só. E é por isso que o tempo me ensina a aceitar e não discutir – assumindo que isso não é passividade, mas respeito. Pois o Tempo é um senhor velho, e nada melhor que um homem idoso para nos ensinar sobre o respeito. Respeito, esse, que quando não de covardia, é chamado de ignorância pelos que não aprenderam nossas lições. Nossas lições, pois a vida tem muitas lições, e uma só vida não é suficiente para aprender todas elas.

E eu me baseio por essas – as que meus irmãos e professores tem me ensinado. Entre eles, o Tempo. Mesmo que transforme isso tudo em pó. Ainda pó, pior se não fosse sequer um cristal um dia.


“Mesmo que um clima de “novo tempo” pairasse sobre aquela Roma, algumas pessoas ainda se preocupavam com as tradições, e isso fizera com que um choque de pensamento acompanhasse aquela geração. Os novos tempos eram evidentes, o que variava era a maneira de como aqueles homens e mulheres lidavam com isso. Mesmo que os cristãos – e os pensamentos que os acompanhavam – fossem reprimidos e a chama dos deuses Antigos reacendida, o espírito de um Sol nascente depois de uma noite fria já estava enraizado naquele momento. E isso fazia com que, justamente, alguns desses mesmos homens e mulheres quisessem aplaudir os novos dias, enquanto outros, apenas lamentar a noite que se deitava.”
(Sob o Sol já Deitado, Capítulo XI).


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uns dos Pontos da Questão


Algo em mim se lambusa de algo que quer ser lambusado. Uma sede pós calmaria. Sede de mudança. Um instinto que convida a todos a percorrer caminhos indecifráveis. Seriam as cores do teu olhar? Ou o medo que nos atinge na hora de dormir e vagar?

Palavras que se completam em minutos. Seria tão compreensível assim nossos olhares cruzados ou nossas mãos idênticas entrelaçadas?

Pontos de interrogação aqui e ali; flutuantes e usufruintes de sua própria levesa artificial. Pontos pesam mais do que se imagina; meus caros! Pontos pesam! Mas se pesam; porque somente os "nossos" é que flutuam?

Uma mão estendida é uma mão que se abre à possibilidades inúmeras. Uma mão que se fecha é uma mão que segura aquilo que não a pertence. Pois uma vez a própria mão não pertencendo a si própria; o que a poderia pertencer?

Pontos; pontos; pontos! E eu me pergunto: onde andarão as vírgulas? Seriam elas mais flexiveis e gentis que os pontos?

Aquilo que respiro me é suficiente para garantir o desejo irrefutável de renovação física; mental e espiritual; pelo qual meu corpo e alma carecem.

E por favor; não temamos o desconhecido; pois nada se perde em sua longa estrada semiobscura. É como a lei da física: Tudo se trasnforma.

E eu acrescentaria: Se transforma para que haja sempre uma forma de se auto eternizar.

"A Life Lived in Fear is a Life Half Lived"


Para Não Dizer Que Não falei Das Lebres


Em dias como hoje de correria intensa,

dias que parece que nada me pertence

Não tenho tempo de sentir, sonhar

e até meus pensamentos parecem sem tempo para fluir.

Quem me condenaria por desejar apenas fazer nada

Se esse nada coordena o caos que nesse momento reside em mim

Meu tempo não se resume mais a possibilidade de encontrar

A noite não é mais um mistério obscuro

Tornou-se uma parte

Insondável de mim mesmo

Minha limitação sou eu mesmo.

Hoje pela manhã não me importa mais

Se alguém ganha ou perde

Percebi que é difícil tomar uma atitude

e ainda mais difícil deixar de tomá-la.

Hoje redescobri que dizer ‘meu amigo’ é uma vitória

E que amar é mais que um encantamento

É uma habilidade filosófica

Hoje eu quebrei meu espelho e vi estilhaços em mil formas

As mil formas que me representam

As mil formas que habitam minha alma

Quem sou eu de verdade?

A pergunta não é essa...

Porque não tenho que escolher um ‘Eu’

Eu gosto da dor que sinto ao respirar

Gosto de quando não respiro...quando não dói mais

Sinto as marcas de todos os resíduos,

Do meu cheiro que teima em não ficar em nada

Me fazendo crer que sumi

Até teu gosto não me vem mais a boca

Perdi a sensação da falta de teu toque

Estou dormente?

Minha pele tem vida?

Olho novamente

Nos estilhaços do espelho vejo meu corpo

Levo a mão ao peito e imagino como me vêem

Que cara poderia ter hoje?

Como definir meus próprios detalhes?

Um piscar de olhos e o dimmer diminui a luz com suavidade

Estou próximo a palavra ideal,

Daquele olhar que faz minha alma cantar

Saio do meu reflexo

Estou vazio...ainda...


Por: Yuri Pospichil