segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conselhos de Rilke - I


Apresentação

Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta nascido em Praga, é um dos autores de língua alemã mais conhecidos no Brasil. Particularmente não conheço tanto de Rilke quanto gostaria, mas conheço o suficiente de suas obras para dizer que tenho afinidade com seus pensamentos e admiro sua forma de escrever poemas. O que proponho fazer aqui nada mais é do que uma pequena reflexão sobre frases mais interessantes escritas por ele no livro Rilke - Cartas a um jovem poeta, publicado por Franz Kappus em 1929 - três anos após a morte de Rilke.

O livro em questão é uma compilação das dez cartas mais importantes que Rainer trocou com seu interlocutor, Franz Kappus. A partir de hoje, escreverei até o final do mês de novembro trechos dessas cartas, que servem de grande reflexão. Não poderei deixar de comentar os pensamentos de Rilke, assim como cada uma de suas palavras tão bem colocadas. Quem quiser ir a fundo, recomendo o livro que é de fácil leitura, está disponível pela L&PM Pocket e possui 91 páginas.

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"Não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica: elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de aprender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, [...] e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa"

Rilke
Paris, 17 de fevereiro de 1903

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Sou formado em Cinema, e como toda pessoa que assim o é, imagino que não se possa ser atribuído o título de empregado ou desempregado. Há quem diga que quem trabalha no ramo, trabalha com arte, ou trabalha com entretenimento de massas. Se o cinema é ou não uma arte, acredito eu, não é o importante da questão. Talvez, o mais importante é que a arte só é verdadeiramente arte quando surge de uma necessidade de expressão sincera. Não sei se alguém que faz filmes como American Pie os faz por uma necessidade de expressão - e também não deveríamos julgar se essa necessidade é merecedora de expressão ou não. Necessidades são necessidades, conscientes ou não, e cada um tem as suas. Diretores fazem filmes. Ponto. Pessoas fazem arte. Ponto. As vezes filmes são arte, as vezes não.

Pego o exemplo do cinema porque me é o mais familiar. O que gostaria de dizer, assim como Rilke, é que a arte é subjetiva e por esse motivo, pessoal. Você pode julgar o fruto com referência no seu gosto, mas não pode condenar a árvore. A arte não tem o dever de causa alguma a não ser a de ser sincera consigo e com aquele que a criou, e sinceridade, meus amigos, é algo a se combinar. Combina com a possibilidade de compreensão que cada indivíduo possui. É como um código que só pode ser entendido por aqueles que possuem seu dicionário. A diferença da arte para os códigos, a grosso modo, é que, códigos são para serem compreendidos e a arte é um emaranhado de códigos resultantes da expressão de alguém, e, nem sempre, podem ser ou significam algo. Arte é um resultado que pode não ser admirado, mas deve ser respeitado acima de tudo. Não foi feita para se concordar ou não. Ter o direito de concordar com algo ou alguém é democracia e não tem nada a ver com críticas à arte de alguém.

Criticas são construtivas no processo evolucional da carreira ou do trabalho de uma pessoa, mas saiba que a verdadeira arte não se interessa por carreira, trabalho ou evolução. Se interessa em simplesmente ser/existir, independente do motivo que a traz à vida.


Um comentário:

  1. "Criticas são construtivas no processo evolucional da carreira ou do trabalho de uma pessoa, mas saiba que a verdadeira arte não se interessa por carreira, trabalho ou evolução. Se interessa em simplesmente ser/existir, independente do motivo que a traz à vida."

    Assim não tem graça, tu já definiu meu comentário antes mesmo de eu pensar em fazer! hehehe

    Maravilhosa reflexão, pensamos exatamente igual, e realmente acredito que uma arte ligada a escolas e estilos possuem um valor estético importante, mas o experimental e sincero nos traz um nó na garganta, uma sensação horrorosamente maravilhosa de sentir-se tocado e não conseguir explicar o porque...apenas apontamos e dizemos - "É isso."

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