sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conselhos de Rilke - V




"Ame a sua solidão e suporte a dor que ela lhe causa com belos lamentos. Pois os que são próximos de ti estão distantes [...]. Se o próximo está longe, então o que é distante vaga entre as estrelas, na imensidão."

Rilke
Worpswede, 16 de julho de 1903
______________________________


Nem sempre aqueles que estão próximos conseguem estar realmente próximos e envolvidos com nossos anseios, nossas emoções e espírito. Li certa vez algo do gênero:

"...os caminhos bonitos quando feitos todos os dias deixam de ser tão belos. Os caminhos feios quando feitos todos os dias deixam te ter este efeito. A beleza está mesmo no caminhar..."

Talvez, os que próximos estão, estejam muito mais envolvidos com nossas matérias do que com nossas mentes. Difícil olhar para dentro de alguém quando o vê  todos os dias por fora. As pessoas se acostumam com a presença de outras pessoas mas esquecem delas como as viram pela primeira vez. Por outro lado, as pessoas que estão distantes de nós são capazes de se lembrarem de nosso espírito, ainda que para isso utilizem de suas mais sutis imaginações. Há idealização, e os sentires são mais intensos. A saudade é um fator determinante para se saber quem está realmente próximo e quem está ausente.

Devemos amar nossa solidão pois é nela que reside nosso ser. Quem não aprende a amar o próprio ser, não aprenderá a verdadeiramente amar aos próximos. A solidão não é algo ruim, pois, a pesar de sermos todos sozinhos, jamais estaremos a sós. Não será o tempo que lhe mostrará isso, mas seus olhos e sua vontade de enxergar.

Como já disse em outro momento, o tempo é uma invenção. Só existe para os que perecem aos seus pés. Assim também o é a distância. Existe apenas para aqueles que a enxergam em números.

"Se o próximo está longe, então o que é distante vaga entre as estrelas, na imensidão"

Essa, sem dúvidas, é uma frase que descreve Deus como o universo e a vida. O provável motivo de estarmos sempre mais próximos dele do que de qualquer outra coisa.

Aprender a amar a solidão é o primeiro passo para se aprender a realmente amar a comunhão e estar verdadeiramente próximo de alguém, independente da distância.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre Quedas, Humildes e Afins.


As quedas nos ensinam a sermos humildes. Humildes são aqueles que sabem que não detêm o controle de suas vidas de forma plena.

Os humildes nos ensinam que para não haverem quedas deveríamos aprender a viver em comunhão, e a palavra chave para a comunhão é o equilíbrio.

O equilíbrio nos ensina que somente o equilíbrio traz o pleno controle da própria vida e a verdadeira independência - não dos outros, mas de nossas próprias quedas.

E, por fim, independência não é o poder de se fazer tudo o que se quer, e sozinho. É o poder de se poder fazer algo sem cair, pois não há queda quando existem pessoas para nos amparar durante a caminhada.



Momentos Distantes


Tudo mudou e eu nem percebi, minha família cresceu e diminuiu ao mesmo tempo. Nasce gente todos os anos, mas nunca serão tão próximos de mim quanto os que se foram. E os que foram para sempre, ainda parecem aqui estar dentro de mim em cada pensamento, ao mesmo que tempo parecem nunca terem existido.

Há seres que parecem bons demais para um dia terem sido reais. Aqueles que se foram com as mudanças da vida, ou porque mudaram geograficamente, ou mudaram tanto que mesmo que eu queira e tente nunca mais serão aqueles que dividíamos tantas coisas.

Pode ser que fui eu quem mudei tanto que nunca mais poderei dividir nada com eles, embora divida sem querer a lembrança dos bons momentos vividos.

Tem também uns que simplesmente desaparecem, enterrados pelo desaparecimento, não sei estão vivos ou mortos e nem sei se por acaso ainda lembram de mim. Os anos passam tão rapidamente e a gente pensa que sabe para onde vai, na verdade é que nem se sabe se vai, quando vemos já não tem volta.

As pessoas mudam, mudam as coisas, as coisas mudam a vida, que passa e nos deixa passado. Pareço mergulhada numa realidade que tanto desejei, tanto procurei, por qual tanto lutei que nem percebo se sou exatamente como imaginava que seria quando tivesse isto tudo não me lembro como me imaginava. Só sei que nesta realidade as coisas não são tão claras como penso que esperava, mas não imaginava que tantas pessoas ficariam pelo caminho espalhadas como coisas.

E de repente não sei se tudo mudou e eu mudei junto, ou se fui eu quem mudei as coisas. Não tem muita explicação essa vida mesmo, sabemos que não vale a pena a angustia, mas vivemos angustiados.

Só sei que procuro em mim um pouco de antes, e antes procurava em mim essa que sou agora. Me descobri míope, mas só acreditei no diagnóstico quando coloquei os óculos e vi que as coisas não estavam assim tão distantes.

Acho que sempre fui míope, não dos olhos, da vida! Nunca enxerguei muito o distante, sempre achei que viver hoje e a prioridade maior. Viver com paixão ou com dor, mas acima de tudo, em tudo colocar amor.

O fato é que assim como não se pode prever o amanhã também não sabemos se estamos dando prioridade ao que é correto. E as vezes parece tudo embaralhado, embaçado e sem cor, e não adianta colocar os óculos, tem coisa não fica nítida assim tão fácil.

E existem distancias que só aumentam, não aquelas que os aviões nos trazem em poucas horas. Existem lugares que nunca poderemos voltar, e pessoas que nunca poderão nos alcançar.

Ainda tem momentos e pessoas que são vivas apenas em meus pensamentos, assim como eu deixei pedaços despregar de mim enquanto vivi, e vivo a repetir os mesmos passos, pois assim que é viver e assim me refaço.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Para Quando Caem as Cortinas



Sempre que mentires, rogo-te que vista o veneno
com seda nobre e ouro vivo,

Que me olhes com doçura enquanto
seguras o punhal em tuas costas

E que de mel embeba tuas palavras de despedida.

Faça-me morrer com arte e pela arte,
Por que já pouco importa se de luxo é teu teatro,
Ou que teu ouro e tua seda se revelem cópias ordinárias
da beleza de outrora.


Desejo apenas que me faças crer!

E por fim, em paz,
Entre aplausos inflamados, desvanecer.



Conselhos de Rilke - IV



"Não investigue agora as respotas que não lhe podem ser dadas, porquê não poderia vivê-las. [...] Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas."

Rilke
Worpswede, 16 de julho de 1903
______________________________


Essa frase remete um pouco ao conselho anterior. O de saber esperar pelo amadurecimento de uma idéia, algo ou alguém. Entretanto, acho que meu comentário não irá mais longe do que um breve desabafo. Quando pensamos que estamos vendo o caminho, percebemos que ainda não vimos nada de diferente de outrora. Trata-se de ti (eu e vocês), cada um, sentados sobre o mesmo cordão da mesma calçada de uma rua qualquer que como qualquer outra leva a qualquer lugar.

Essa frase não me caberia menos perfeitamente que uma luva. É como diz o ditado popular, "Se tu tens um problema e o mesmo tem solução, não se preocupe pois há uma solução. Agora, se tu tens um problema com a solução, preocupe-se menos ainda pois há solução". E é assim, amigos. "Se correr, o bicho pega. Se ficar o bicho come."

Este blog já me salvou muitas vezes e continua a me salvar sempre que preciso. Independente de quem o leia ou o visite. Aqui encontro em momentos de reflexão meus demônios, virtudes, dúvidas e soluções.

Quem sabe um dia eu ganhe alta!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Comunhão


Queria andar pelas ruas de lugar algum
Vivendo sonhos dos quais já não lembro nenhum.
Talvez subir em uma montanha bem alta,
Até que da realidade já não sinta falta.

“Confias em mim, como confio em ti?”
“Da mesma forma em que te amei outrora, e um verdadeiro amor conheci.”

Eram as palavras dos amantes que eu não mais sentia.
Por isso que, triste, já não subo as ruas, nem percorro as montanhas, como outrora fazia.