15. PRESSÃO
[...]
As ondas ficaram maiores enquanto eu andava, começando a quebrar nas rochas, mas ainda não havia vento. Sentei-me presa ao chão pela pressão da tempestade. Tudo girava ao meu redor, mas era perfeitamente tranquilo onde eu estava. O ar tinha uma suave carga elétrica - eu podia sentir a estática em meu cabelo.
Mais ao longe, as ondas estavam mais furiosas do que junto à praia. Eu podia vê-las quebrando na linha dos penhascos, espelhando pelo céu grandes nuvens brancas de espuma. Ainda não havia movimento no ar, embora as nuvens agora se agitassem com mais rapidez. Era uma visão sinistra - como se as nuvens se mexessem por vontade própria. Tremi, apesar de saber que era só um truque da pressão.
Os penhascos eram uma lâmina preta contra o céu claro. [...] Imaginei a total liberdade da queda... Imaginei como a voz de Edward ficaria em minha cabeça - furiosa, aveludada, perfeita... O ardor no peito incendiou-se em agonia.
Tinha de haver uma forma de extingui-lo. A dor ficava mais insuportável a cada segundo. Olhei os penhascos e as ondas que quebravam.
Bem, por que não? Por que não extinguir a dor agora mesmo?
[...]
Eu conhecia a rua que passava mais perto dos penhascos, mas tive que procurar o pequeno caminho que me levaria à pedra. Enquanto seguia, tentei encontrar desvios ou bifurcações, sabendo que Jake tinha planejado me levar à pedra mais baixa ao invés do topo, mas o caminho seguia numa linha reta e estreita até a beira, sem me deixar opções. não tive tempo para encontrar um jeito de descer - a tempestade se aproximava rapidamente. O vento, enfim, começava a me tocar, as nuvens passando mais próximas do chão. Assim que cheguei ao local onde a estrada de terra se abria num precipício de pedra, as primeiras gotas se irromperam e se espalharam em meu rosto. [...] Eu queria pilar do topo. essa era a imagem que se fixara em minha mente. Eu queria a longa queda que me daria a sensação de voar.
Sabia que aquela era a atitude mais idiota e mais imprudente que já tomara. Pensar nisso me fez sorrir. A dor já estava cedendo, como se meu corpo soubesse que a voz de Edward estava a apenas alguns segundos de mim...
O mar parecia muito distante, de certo modo mais distante do que antes, quando estava no caminho, entre as árvores. Fiz uma careta quando pensei na provável temperatura da água. Mas não ia deixar que isso me impedisse.
O vento agora soprava com mais força, chicoteando a chuva em redemoinhos ao meu redor.
Dei um passo para a beirada, sem tirar os olhos do espaço vazio à frebte. Os dedos de meus pés já tateavam às cegas, acariciando a beira da pedra quando a encontraram. Respirei fundo e prendi o ar... Esperando.
"Bella"
Eu sorri e soltei a respiração.
Sim? Não respondi em voz alta, por medo de que a voz dispersasse a bela ilusão. Ele perecia tão real, tão próximo. Só quando me reprovava desse jeito eu podia ouvir a verdadeira lembrança de sua voz - a textura aveludada e a entonação musical que compunha a mais perfeita das vozes.
"Não faça isso", pediu ele.
Você quis que eu fosse humana, lembrei a ele. Bem, assista.
"Por favor, por mim."
Mas você não vai ficar comigo de nenhuma outra maneira.
"Por favor." era só um sussurro na pancada de chuva que agitou meu cabelo e ensopou minhas roupas - deixando-me tão molhada que era como meu segundo salto do dia.
Fiquei na ponta dos pés.
"Não, Bella!" Ele agora estava com raiva, e isso era adorável.
Sorri e levantei os braços, como se fosse mergulhar, erguendo o rosto para a chuva. [...] Primeiro pé, primeira vez. Inclinei-me para a frente, agachando-me para tomar impulso.
E me atirei do penhasco.
Gritei ao cair pelo espaço aberto como um meteoro, mas foi um grito de alegria, não de medo. O vento impunha resistência, tentando em vão lutar contra a gravidade indomável, empurrando-me e me fazendo girar em espiral como um foguete atingindo a terra.
Sim! A palavra ecoou em minha cabeça enquanto eu cortava a superfície da água. era gelada, mais fria do que eu temia, e, no entanto, o frio só aumentou o meu prazer.
Estava orgulhosa de mim à medida que mergulhava mais fundo na água escura e congelante. Não senti nem um segundo de pavor, [...] onde estava o desafio?
Foi então que a correnteza me pegou.
[...]
Parecia que as ondas queriam lutar comigo, lançando-me de um lado para o outro como se estivessem decididas a me dividir, cortando-me pelo meio.
[...]
Eu nem sabia dizer para que lado estava a superfície.
A água furiosa era negra em todas as direções; não havia qualquer claridade que me orientasse para cima. A gravidade era onipotente quando competia com o ar, mas não significava nada nas ondas.
[...]
Lutei para manter presa a respiração, para manter meus lábios fechados em torno de minha última reserva de oxigênio.
Não me surpreendeu que minha ilusão de Edward estivesse ali. Ele me devia muito, considerando que eu estava morrendo. Fiquei surpresa por estar tão certa disso. Ia me afogar. estava me afogando.
"Continue nadando!", implorou Edward com urgência em minha cabeça.
Para onde? não havia nada a não ser a escuridão. não havia para onde nadar.
"Pare com isso!"Ordenou ele. "Não se atreva a desistir!"
O frio da água entorpecia meus braços e minhas pernas. Eu não sentia o açoite tanto quanto antes. Agora era mais uma vertigem, um giro desamparado na água.
[...]
"Lute!" gritou ele. "Que droga, Bella, continue lutando."
Por que?
Não queria mais lutar. E não era a vertigem, nem o frio, nem o fracasso doa braços à medida que os músculos desistiam de exaustão que me deixava contente por ficar onde estava. Eu estava quase feliz por aquilo ter acabado. Era uma morte mais fácil do que outras que enfrentei. estranhamente em paz.
Pensei por pouco tempo nos clichês, sobre como você devia ver sua vida passar diante de seus olhos. Eu tinha muito mais sorte. Quem afinal queria ver uma reprise?
Foi ele que eu vi, e não tive vontade de lutar. Era muito claro, muito mais definido do que qualquer lembrança. Meu subconsciente guardava Edward em detalhes impecáveis, poupando-o para este último momento. Pude ver seu rosto perfeito como se ele estivesse mesmo ali; o tom exato de sua pele gélida, o formato de seus lábios, a linha de seu queixo, o cintilar dourado de seus olhos furiosos.
[...]
"Não! Bella, não!"
Minhas orelhas foram inundadas da água gélida, mas a voz dele era mais clara do que nunca. Ignorei as palavras e me concentrei no som de sua voz. Por que eu lutaria se estava tão feliz ali? Mesmo enquanto meus pulmões ardiam, querendo mais ar, e minhas pernas doíam do frio gelado, eu estava contente. Tinha me esquecido de como era a verdadeira felicidade.
Felicidade. Isso tornava toda a história de morrer bastante suportável.
A correnteza venceu nesse momento, lançando-me repentinamente contra algo rígido, uma rocha invisível no escuro. Atingiu-me com força no peito, golpeando-me como uma barra de ferro, e o ar fugiu de meus pulmões, escapando numa nuvem espessa de bolhas prateadas. A água inundou minha garganta, sufocando e queimando. a barra de ferro pareceu me arrastar, puxando-me para longe de Edward, mais fundo nas sombras, para o fundo do mar.
Adeus, eu te amo, foi meu último pensamento.