Sem os sons dos tambores, mas, apenas, os grilos lá fora. A luz acesa, a janela aberta e o monótono som similar ao congelamento do tempo. Elementos simples e essenciais. Constituintes da estranha sensação da apatia. Como se tudo fosse inevitável e, ao mesmo tempo, indiferente ao corpo e à rotina da alma.
Somente o calor, inclausurado dentro da carne, evidenciando o abafamento da razão contínua... Esmaecendo, pouco a pouco, a inteligência vaga, e, enaltecendo os mais puros sentidos do etéreo. A vida que corre entre minhas veias burbulhando ao som do calor. Aquela temperatura mágica e distante... Entorpecente.
Lá fora, o amanhã - que não chegará cedo - desperta o desejo de acelerar os ponteiros do relógio que, inteminantemente, faz o conhecido tic-tac pra cá, tic-tac pra lá. A mesma de sempre, e vaga melodia melancólica, dos que aguardam, e, nada mais esperam. Sentidos contraditórios e ambulantes como seus senhores.
Sente-se, então, o silêncio imperial da noite sobre os jovens sonhadores. O rubor de suas faces suadas e exauridas. Escuta-se, por fim, - além daquela canção dos grilos - os batimentos cardíacos e, a também, de sempre, pulsante corrente sanguínia - vermelha e vívida! - A mesma que pulsa, pulsa, e pára, no mais absoluto suspense.
Ah, se não conhecêssemos bem essas noites! Em que o mais importante se desfaz com o simples ato de deitar-se de bruços. Onde é tudo tão minúsculo diante de nossos universos. Tão perecível! E nós, pequenos Deuses astrais, perdidos naquela hora em que o tempo dilata-se até parar de passar. Onde o amanhã torna-se mais distante do que a próxima estação...
Aqueles dias de verão!
Dias do ventilador e do lençol.
Da janela aberta para infância.
Do mais absoluto silêncio.
E das canções sussurradas, pouco a pouco, engasgadas...