quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Lua Nova


4. O DESPERTAR

O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até pra mim.
[...]
Esperei que o torpor voltasse, ou a dor. Porque a dor devia estar vindo. Eu quebrara minhas próprias regras. Em vez de fugir assustada das lembranças, eu me dirigi a elas e as acolhi. Ouvi a voz dele com muita clareza em minha mente. Isso seria penoso pra mim, eu tinha certeza. Em especial se eu não pudesse resgatar a névoa para me proteger. Sentia-me alerta demais, o que me assustava.

Mas o alívio ainda era a emoção mais forte em meu corpo - um alívio que vinha bem lá do fundo.

Por mais que lutasse para não pensar nele, eu não lutava para esquecê-lo. Eu me preocupava - tarde da noite, quando a exaustão da privação de sono penetrava em minhas defesas - que tudo desaparecesse. Que minha mente fosse uma peneira e eu um dia não conseguisse me lembrar da cor exata de seus olhos, da sensação de sua pele fria ou da textura de sua voz. Eu podia não pensar naquilo, mas queria me lembrar de tudo.

Porque só havia uma coisa em que eu precisava acreditar para poder viver - eu precisava saber que ele existira. Era só. Todo o restante eu podia suportar. Desde que ele tivesse existido.
[...]
Proibida de lembrar, com medo de esquecer; era uma situação limite.
[...]
Deitei na cama alguns minutos depois, resignada enquanto a dor finalmente resolvia aparecer.
[...]
Era paralisante, aquela sensação de que um buraco imenso tinha sido cavado em meu peito e que meus órgãos mais vitais tinham sido arrancados por ele, restando apenas sobras, cortes abertos que continuavam a latejar e a sangrar apesar do passar do tempo. Racionalmente, eu sabia que meus pulmões ainda estavam intactos, e no entanto eu arfava e minha cabeça girava como se meus esforços não dessem em nada. Meu coração também devia estar batendo, mas eu não conseguia ouvir o som de minha pulsação nos ouvidos; minhas mãos pareciam azuis de frio. Eu me encolhi abraçando as costelas para não partir ao meio. Lutei para ter meu torpor, minha negação, mas isso me fugia.

E, no entanto, achei que podia sobreviver. Eu estava alerta, sentia a dor - a perda dolorosa que se irradiava de meu peito, provocando ondas arrasadoras de dor pelos membros e pela cabeça -, mas era admissível. Eu podia sobreviver a isso. Não parecia que a dor tivesse diminuído com o tempo; na verdade, eu é que ficara forte o bastante para suportá-la.

O que quer que tivesse acontecido naquela noite - e quer tenha sido responsabilidade dos zumbis, da adrenalina, ou das alucinações -, tinha me despertado.

Pela primeira vez em muito tempo eu não sabia o que esperar da manhã.


3 comentários:

  1. Apesar de ser um depoimento de Bella Swan, sinto como se fosse o meu próprio...

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  2. Bem...Bella sofreu...mas encontrou apoio e sobreviveu. O amor voltou a sorrir.
    Contigo será assim também...

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